Uma relação de pai para filho. É assim que o comandante Geraldo Araújo Filho define seu laço com o Hepadu. Não à toa. Ele e o barco dividem histórias do mar há quase 40 anos. E se preparam para uma grande aventura, a maior de todas: a circunavegação de volta ao mundo.

Geraldo e a esposa Andréa Cardoso vão embarcar nessa viagem a bordo do veleiro de 23 pés (7,5 metros), o que torna a travessia bem ousada. Será o menor barco brasileiro a fazer a viagem – até hoje, em navegações deste tipo, o menor foi o Crespo (Edson e Raul), de 25 pés, no final dos anos de 1990. Importante ressaltar, contudo, que a embarcação não completou o circuito, com seus comandantes comprando outro maior no caminho.

A partida está prevista para este domingo (12/3), do Cabanga Iate Clube de Pernambuco. O primeiro destino será o Caribe, na Ilha Barbados, que fica mais ao Sul. Depois, eles vão subir para São Vicente e depois para Santa Lucia. Se tudo der certo, o tempo estimado para fazer a circunavegação é de um ano e oito meses, voltando à capital pernambucana em outubro de 2024.

“Basicamente vamos estar mais no mar navegando do que parado em terra. Gostamos do poder do desprendimento da terra em ficar tanto tempo longe e suas boas consequências, como trazer para o Cabanga o título do menor veleiro brasileiro a completar a volta ao mundo”, enfatizou Geraldo Araújo.

PLANEJAMENTO

A travessia está dividida em seis partes: Oceano Atlântico, Pacífico Sul, Oceano Índico Norte, Mar Vermelho, Mar Mediterrâneo e Oceano Atlântico. Saindo do Recife, o Hepadu vai navegar pelas Ilhas do Caribe, Canal do Panamá, Ilhas do Oceano Pacífico, norte da Austrália, Ilhas do Oceano Índico, Golfo do Éden, travessia do Mar Vermelho, Canal de Suez, Mar Mediterrâneo, Estreito de Gilbraltar, Ilhas do Oceano Atlântico na Costa Africana, Penedos de São Pedro e São Paulo, Fernando de Noronha e Recife.

“De Recife a Barbados, primeira etapa, iremos eu e Andréa, minha mulher. Ela vai desembarcar no Panamá, pois não vai poder ficar tanto tempo afastada do Recife. Do Panamá em diante sigo sozinho. Eu e o Hepadu”, corrigiu o comandante, que era “lancheiro” – termo utilizado pelos velejadores na eterna rixa entre vela e motor. “Fui ‘convertido’ pelo grande amigo Maurício Castro, idealizador da Refeno, que me influenciou a vender a lancha e comprar um veleiro. Comprei o Hepadu em 1986 e o tenho até hoje. É uma relação quase de pai para filho e ele me pede para dar a volta ao mundo há décadas”, brincou Geraldo Araújo.

SOBRE O HEPADU

O Hepadu é um monocasco tipo oceano, com mastreação fracionada. O desenho do casco é adaptado para condições de mar forte. Uma das grandes qualidades do barco é a segurança. O casco é de fibra de vidro tipo colmeia, duplo e de grande resistência.

HISTÓRIA

As aventuras do Hepadu começaram em 1986, com viagens ao longo da costa nordestina, de Natal (RN) a Maceió (AL). Depois, o veleiro navegou por Fernando de Noronha (um ano depois da primeira edição da Refeno), Salvador, Atol das Rocas e Abrolhos, no Sul da Bahia. Na década de 1990, o barco fez o roteiro “Todos as Ilhas Oceânicas do Brasil”, que compreendeu novas idas a Fernando de Noronha, aos Penedos de São Pedro e São Paulo, Atol das Rocas, Abrolhos, Ilha de Trindade e Martin Vaz. A expedição foi agraciada com a comenda denominada “Medalha do Mérito Náutico Cabanga Iate Clube de Pernambuco, em agosto de 2005.

Fotos: Tsuey Lan Bizzocchi