“Após a capotagem, sem aparelho, sem óculos, sem luz, Spot perdido, sem Lua, fui o primeiro a sair da água. Logo que subi no casco, os demais companheiros apareceram. Celebrei que estavam todos vivos. Às 3h30 do domingo (28 de setembro), pedi a minha mãe Celina Hutzler (falecida em maio deste ano) que me desse uma resposta para nos salvar. Meia hora depois, a balsa apareceu entre a rede sem ajuda de ninguém. Antes de amanhecer, peguei no sono e acabei caindo na água, fui direto para o flutuante. Depois que abrimos a balsa, lemos o manual, subimos e organizamos as pernas para que todos ficassem bem. Passamos a manhã e a tarde com muito calor, porém fechamos a balsa por causa das grandes ondas. No final da tarde, depois de um pequeno chuvisco, aproveitamos um pouco de água. À noite, comecei a ficar com hipotermia, frio, por causa do molhado que eu estava e a troca térmica entre dia e noite, mas meus amigos me aqueceram. Às 20h do domingo – quase 24 horas depois – tomamos os primeiros goles de água, todo mundo igual, 50 mililitros para cada um. Jorge fez regra e anunciou que todos tomariam essa mesma quantidade de seis em seis horas. Até o resgate avistamos duas embarcações, tentamos fazer sinal, mas ambas sem sucesso. Na manha da segunda-feira (30), às 10h, vimos um navio muito longe, pegamos meu Ipad para fazer reflexo da luz do sol para chamar atenção. Nessa hora, mais uma vez, até pedi para minha mãe que avisasse ao navio para vir nos buscar. Para nossa felicidade, funcionou! Não sou muito de religião, mas acredito na alma familiar.”