Além da vida, entrega sonhos náuticos. Esses são os skipper (capitão – tradução em português), profissionais autônomos de navegação. O segundo velejador com mais edições de Regata Internacional Recife-Fernando de Noronha, por exemplo, é skipper. Trata-se de Roque Luiz, carioca radicado na Bahia. Há seis décadas na vela, ele chega este ano à sua 29ª das 32 disputas da história.
“Experiência não se compra, adquire-se com os anos. É por isso que a Refeno é um laboratório para muita gente de diferentes e de distantes lugares. Cada skipper tem a sua história, mas todos nós somos responsáveis por cuidar da vida e de bens materiais de outras pessoas. É muito mais do que um translado, é responsabilidade pois pilotamos uma ‘nave’ chamada barco”, define o veterano Roque, 67 anos de idade.
Ele veio da Bahia e aportou no Recife com o barco Vorai II (BA), na última segunda-feira (20/09). Além dele, mais seis skipper já estão na Capital pernambucana para a partida da maior regata oceânica no Brasil, no dia 25/09 (sábado), no Marco Zero do Recife.
Além de Roque, outro experiente skipper participante da Refeno é Marcos Hurodovich (natural de Caxias do Sul/RS), capitão do mar com muitas milhas navegadas. Mais de 130 mil, o suficiente para dar três voltas ao redor da terra. Especializado em elétrica naval, o construtor náutico de 53 anos de idade ensina a navegar e a entender os sistemas elétricos e eletrônicos das embarcações nas regatas oceânicas.
“Fiz algumas expedições para Antártida, Terra do Fogo, Patagônia, Caribe, Europa, África e Nova Zelândia com vários veleiros oceânicos”, recorda Marcos, veleiro do barco Catamaram Pinguim (RS).
Foto: Tsuey Lan Bizzocchi/Cabanga
O mais novo em idade entre eles, que também chegaram ao Recife a cinco dias da largada, é Leonardo Carneiro (48 anos), filho de Jorge Costa Carneiro, campeão da 1ª Regata Santos-Rio, em 1951, com o veleiro Ondina. Léo, da embarcação Nemos (RJ), do Rio de Janeiro, onde nasceu, vai para a sua 5ª participação na Refeno. Ele também já velejava com Roque há 20 anos.
“Cinco dias no mar não é repetição. Um dia vemos o sol nascer, no outro tem mais vento, outra hora é chuva, depois pôr-do-sol, outro dia tem baleia, golfinho etc. O que oferecemos (os skipper) são experiências náuticas. Ensinamos, experimentamos, vivenciamos e fomentamos novos velejadores”, destaca Léo.
Prestes a disputar a Regata Recife-Fernando Noronha pela 3ª vez, o baiano Bruno Soledade (49 anos e natural de Salvador), o Baqueiro, do veleiro Arribasaia (BA), também carrega uma paixão hereditária pela vela.
“Meu pai sempre foi desportista náutico, então ele me ensinou a velejar ainda criança, aos nove anos. À época, também me apresentou um amigo, Aleixo Belov, que deu uma volta ao mundo de barco. De cinco anos pra cá, velejo profissionalmente, vivendo e morando no barco. No ano passado, dei sozinho a volta completa no Atlântico Norte, saindo do Brasil, passando pelo Caribe, EUA, Espanha, Portugal. Entre os skippers digo que sou o caçula em relação ao tempo de atuação profissional”, conta o nordestino.
Para Beto Fabiano (50 anos), “o mais fácil é velejar e o mais complexo é ter segurança”. “É preciso entender sobre mecânica, elétrica, GPS, saúde e carta náutica”, acrescenta o velejador. Natural de São Paulo e morando em Florianópolis/SC, ele completará sete refenos. Seu veleiro é o Pangeia (SC).
O skipper normalmente é resultado de muitos anos de navegação, de experiência em alto mar, como exemplifica o catarinense Ademir de Miranda, mais conhecido como Gigante (64 anos), que mora em Porto Alegre/RS. De lá, embarcou para o Recife com o barco Entre Polos (RS). O experiente velejador alcançará a sua 8ª Refeno.
“Em 1984, construí um barco. Sempre usei também barco para lazer próprio. É incomum todos trazerem esse desejo de uma vida ligada à náutica desde criança ou adolescente”, comenta Gigante.
Na Refeno pela 6ª vez, Marco Cordeiro (56 anos) esteve em quatro edições como comandante do seu veleiro Labadde, ficando em 1º, 2º, 3º e 4º lugar na sua categoria, e outra na função de tripulante. Este ano, o carioca segue com a embarcação Labadde IV (BA).
“A praia sempre foi meu quintal. Estou na vela desde 12 anos de idade. Como eu já vinha do esporte náutico, sempre alimentei o desejo de cuidar de barco. Inclusive, fui construtor do meu próprio barco. Há um bom tempo, sou muito feliz como skipper”, pontua o também Capitão Amador pela Marinha do Brasil.
Formações
É no mar que os skippers encontram um meio de vida. São mais do que um marinheiro, eles são habilitados, mas a profissão é desconhecida do grande público. No passado, cada skipper passou por outra área. Roque é formado em Matemática; Bruno em Ciência da Computação; Leonardo com graduação em Publicidade, Marco com formação em Direito; Beto graduado em Economia; Gigante também atua como empresário.
Já Marcos Hurodovich tem a fotografia como um de seus hobbies favoritos, registrando por suas lentes as belezas do mar e a vida na terra.