Martine Grael e Kahena Kunze são bicampeãs olímpicas. A dupla brasileira chegou em terceiro na regata da medalha da classe 49erFX disputada nesta segunda-feira ultrapassou o barco o holandês que havia ficado na frente delas na fase de classificação no critério de desempate e conquistaram o ouro nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020, repetindo o feito do Rio 2016.
O Brasil soma agora 12 medalhas no Japão, sendo três de ouro, três de prata e seis de bronze. Já a vela brasileira tem oito ouros, três pratas e oito bronzes, totalizando 19 medalhas olímpicas na história. A dupla se igualou a Adhemar Ferreira da Silva, lenda do salto triplo, e a Sheilla, Jaqueline, Fabi, Fabiana, Paula Pequeno e Thaisa, do vôlei, como únicos bicampeões olímpicos brasileiros em Jogos seguidos. Além disso, entram num seleto grupo de 15 atletas com dois ouros em torneios olímpicos, que incluía apenas dois velejadores: Torben Grael e Robert Scheidt.
“É uma honra estar no mesmo patamar de nomes que fizeram a história do esporte olímpico brasileiro. Ainda não caiu a ficha. Ter o Robert aqui mostrou pra gente que não tem idade, se você tem vontade, se você está preparada para aquilo, você pode fazer. A gente não começou bem a nossa semana, mas fomos indo, batalhou cada regata e mostrou que a gente conseguiu chegar ao objetivo”, disse Kahena.
“A gente ter o Torben e o Robert aqui é ainda mais emocionante porque, para mim, eles são nossos ídolos. Ter eles aqui e ser bicampeã olímpica é indescritível”, completou Martine.
Campeãs olímpicas na Rio 2016, Martine e Kahena chegaram à medal race na segunda colocação, com 70 pontos perdidos, atrás das holandesas Annemiek Bekkering e Annette Duetz têm o mesmo total, mas vencem no critério de desempate, depois das 12 regatas disputadas na pequena ilha de Enoshima. A dupla brasileira, que já havia vencido o evento-teste dos Jogos no local, o mesmo dos Jogos Olímpicos Tóquio 1964, terminou a regata decisiva na terceira posição, mas à frente das principais rivais graças a uma estratégia inusitada.
“Eu dei uma olhada no píer onde o pessoa estava torcendo, antes da gente descer com o barco e vi que tem uma diferença de corrente bem grande. Eu sou do Rio, de Niterói, conheço bem a baía de Guanabara, e sabemos que uma diferença de corrente favorece um lado ou outro. A gente não tinha uma estratégia certa de um lado ou outro, ia depender de como as adversárias estariam, mas a gente queria largar livre para poder velejar. A gente conseguiu dar uma largada apertada no começo, posicionamos na linha há poucos segundos da largada, mas conseguimos ir bem livre na direita e acho que ter ido rápido e livre foi a chave hoje porque estava com pouco vento. Se você fica no bolo acaba não tendo muito o que fazer”, contou Martine.
Elas tiveram que superar algumas dificuldades nunca antes enfrentadas em anos no mar e recorreram até ao que não acreditam para garantir o segundo ouro olímpico.
“No primeiro dia aconteceram umas coisas que a gente mesmo, com muitas horas no barco, nunca tinham vivido. Prendeu a escota num lugar que nunca aconteceu antes. E nenhuma de nós duas é muito supersticiosa, mas a gente prendeu fitinha, pedimos pra abençoar o barco depois. Umas duas ou três coisas que exigiram que a gente tivesse um recomeço para chegar aqui hoje”, analisou Martine.
Trazida por imigrantes no século 19, a vela se tornou uma cultura entre famílias de origem europeia, incluindo os Grael e os Kunze. Desta história, surgiu a dupla que conquistou o bicampeonato Olímpico em Tóquio 2020. No Rio 2016, as duas se tornaram as primeiras velejadoras mulheres do Brasil a ganharem um ouro Olímpico. O currículo de conquistas é extenso e inclui também um ouro e quatro pratas em Campeonatos Mundiais. A campanha vitorioso em Tóquio 2020 exigiu muito de Martine e Kahena, como contou Torben Grael, chefe da equipe e pai orgulhoso.
“Você quando está competindo, está entretido. Não tem muito espaço pra emoção. Quando está de fora assistindo não tem nada pra fazer, só torcer. E é muito mais emocionante pra mim ver uma medalha dela do que ganhar uma medalha porque ver meus filhos bem-sucedidos é muito bom”, disse Torben, dono de cinco medalhas olímpicos.
“Foi tudo muito difícil, a vinda pra cá, não teve condições de treinar antes do evento, só já perto da competição. O campeonato foi uma competição em que elas tiveram alguns obstáculos que nunca tinham acontecido. Na primeira regata, elas estavam super bem e um equipamento ficou presa entre a asa e o barco, e elas acabaram caindo pra 15º. Depois uma penalidade, junto com a norueguesa na largada, um outro resultado difícil que elas salvaram recuperam muito. Esse segundo ouro foi um desafio grande para elas”, completou.
A vela segue encerra a programação nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020 com a regata decisiva da classe 470. Fernanda Oliveira e Ana Barbachan chegam à regata da medalha na quinta colocação, ainda com chances de pódio. Elas conseguiram um oitava lugar e venceram a última regata de classificação nesta terça-feira.
“A gente ficou feliz com o dia de hoje. Os Jogos Olímpicos são especiais, onde a gente comete erros e acaba perdendo pontos importantes ao longo dessas 10 regatas, mas o dia de hoje foi muito bom pra nós. Ganhamos duas regatas de 10, nos acertamos no grupo da frente, fechando essa fase em quinto lugar. A gente está feliz com nosso desempenho e vamos tentar amanhã fazer o melhor que pode, matematicamente temos chance, mas não depende só do nosso desempenho. A gente tem que tentar fazer o nosso melhor, andar pra frente, fazer uma regata limpa e ver o que acontece”.